Resenha
Ficha
Técnica:
Nome
do Filme: Eles Não Usam Black-Tie
Direção:
Leon
Hirszman
Atores:
Carlos
Alberto Riccelli, Bete Mendes, Fernanda Montenegro
Duração:
2h14
Gênero:
Drama
Ano
de Lançamento: 1981
Sinopse:
O filme é uma adaptação de uma
peça teatral encenada pela primeira vez em 1958. De Guarnieri, Eles não usam
Black-Tie, escrita quando o artista tinha ainda 24 anos de idade, representa
uma inovação no mundo do teatro por dois motivos: primeiro, porque promoveu a
recuperação do Teatro de Arena de São Paulo e, segundo, porque foi a primeira
peça a introduzir uma temática popular. Na década de 80 na cidade São Paulo, o
jovem operário Tião (Carlos Alberto Riccelli) e sua namorada Maria (Bete
Mendes) resolvem se casar porque Maria está grávida. Nesse mesmo tempo, eclode
um movimento grevista que divide a categoria metalúrgica. Com muita esperança eles
planejam uma nova vida para que possam dar de tudo à criança que vai nascer. No
entanto, um movimento grevista estoura na fábrica onde eles trabalham em São
Paulo e a felicidade dos dois começa a desmoronar. Preocupado com o casamento e
temendo perder o emprego, Tião fura a greve, entrando em conflito com o pai,
Otávio (Gianfrancesco Guarnieri), um velho militante sindical que passou três
anos na cadeia durante o regime militar.
Análise:
O filme nos conta sobre a fase de
crescimento e consolidação das lutas de classe, marcado pela categoria
“trabalho”. Os movimentos sociais tiveram início devido à crise da ditadura
militar, fase em que se fortaleceu os sindicatos. Depois da década de 80 os
movimentos sociais se firmam com o movimento sindical. É bastante claro no
filme o contraste entre os personagens: enquanto o pai Otávio esteve preso, o
filho Tião foi criado pelos padrinhos. O pai sempre foi solidário com a classe,
enquanto o filho é individualista e seu objetivo sempre foi subir na vida. As
imagens do filme, juntamente com os diálogos e as músicas escolhidas nos
permitem fazer uma leitura de um cotidiano sofrido, repleto de tensões e
conflitos, assim como o cenário apresentado desperta uma sensação de aridez e
desconforto, sugestionando as dificuldades da vida do trabalhador brasileiro. O
personagem de Tião é o operário que procura outros padrões de vida, padrões
burgueses, e o fato de ser o único da família que rompe com o circuito
casa-fábrica-bar, sugere a sua desvinculação da classe.
Sobre o mundo do trabalho trata-se
de uma família proletária, onde todos precisam contribuir com o seu trabalho, o
filme sobrepõe três profissões diferentes, sem, no entanto, aprofundar no
diálogo entre eles. As profissões são: metalúrgicos; office-boys e operários da
construção civil. A profissão destaca é a dos metalúrgicos que são
representados como a única classe organizada e preocupada com os próprios
problemas; isso se deve ao fato de que o filme foi produzido dentro do
ressurgimento do movimento operário como a base da redemocratização do país. O núcleo
metalúrgico é o grande destaque do filme, mesmo o filme destacando poucas vezes
a linha de produção e montagem, quando elas são mostradas, sempre aparece com
uma iluminação e uma escolha de ângulo que nos dão a sensação de condições de
trabalho ruins. O próprio som da fábrica colabora para aumentar a sensação.
Também é discutida a questão do arrocho salarial que soterrava o poder de
compra dos trabalhadores, essa questão aparece em diálogos dentro da fábrica,
mas principalmente nos confrontos entre Otávio e Tião. Tião sempre faz
referência às péssimas condições salariais representadas nas condições de vida
da família, desacreditando assim do movimento operário como forma de conquistar
melhorias. Essa visão de Tião é debatida pelo coletivismo de Otávio, consciente
de que os ganhos maiores são os da classe; o individualismo de Tião discute ao
longo do filme que a realização na vida é resultado do esforço individual. O
filme também retrata a introdução do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço), dispositivo criado pelos governos militares para quebrar a
estabilidade no emprego; Tião, reconhece tal benefício como mais um ganho
individual, portanto, não se vê comprometido a se preocupar com a classe. A
crítica é em relação ao FGTS é uma crítica à legislação criada para enfraquecer
o trabalhador diante do poder do capital e dos governos militares. O FGTS está
incorporado à mentalidade trabalhista e, atualmente, devido à ampliação do
mercado informal de trabalho, é cada vez menor o número de trabalhadores que
podem contar com tal benefício, por mais desagregador que tenha sido em sua
origem. Apesar da introdução da questão do FGTS, os operários no filme são
demitidos por questões políticas ou pessoais e, não por falta de posto de
trabalho. Isso aparece nas falas de Otávio e Tião: ambos afirmam que, se
perderem o emprego, não demorariam muito para encontrar outro, pois tinham uma
profissão: destaca-se novamente a categoria metalúrgica. Atualmente, o
movimento operário encontra-se muito mais enfraquecido, visto que o desemprego
é uma realidade entre milhões de pessoas ao redor do mundo, decorrentes das
novas formas de organização do trabalho, com valorização de um novo tipo de
formação flexível, como fragmentação da produção, associada à automação. Se nos
anos 70 o desemprego entre os metalúrgicos não era fator desagregador da união
da categoria, atualmente ocorre o contrário.
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