domingo, 22 de maio de 2016

Filme: Eles Não Usam Black-Tie



Resenha
Ficha Técnica:
Nome do Filme: Eles Não Usam Black-Tie
Direção: Leon Hirszman
Atores: Carlos Alberto Riccelli, Bete Mendes, Fernanda Montenegro
Duração: 2h14
Gênero: Drama
Ano de Lançamento: 1981

Sinopse:
O filme é uma adaptação de uma peça teatral encenada pela primeira vez em 1958. De Guarnieri, Eles não usam Black-Tie, escrita quando o artista tinha ainda 24 anos de idade, representa uma inovação no mundo do teatro por dois motivos: primeiro, porque promoveu a recuperação do Teatro de Arena de São Paulo e, segundo, porque foi a primeira peça a introduzir uma temática popular. Na década de 80 na cidade São Paulo, o jovem operário Tião (Carlos Alberto Riccelli) e sua namorada Maria (Bete Mendes) resolvem se casar porque Maria está grávida. Nesse mesmo tempo, eclode um movimento grevista que divide a categoria metalúrgica. Com muita esperança eles planejam uma nova vida para que possam dar de tudo à criança que vai nascer. No entanto, um movimento grevista estoura na fábrica onde eles trabalham em São Paulo e a felicidade dos dois começa a desmoronar. Preocupado com o casamento e temendo perder o emprego, Tião fura a greve, entrando em conflito com o pai, Otávio (Gianfrancesco Guarnieri), um velho militante sindical que passou três anos na cadeia durante o regime militar.

Análise:
O filme nos conta sobre a fase de crescimento e consolidação das lutas de classe, marcado pela categoria “trabalho”. Os movimentos sociais tiveram início devido à crise da ditadura militar, fase em que se fortaleceu os sindicatos. Depois da década de 80 os movimentos sociais se firmam com o movimento sindical. É bastante claro no filme o contraste entre os personagens: enquanto o pai Otávio esteve preso, o filho Tião foi criado pelos padrinhos. O pai sempre foi solidário com a classe, enquanto o filho é individualista e seu objetivo sempre foi subir na vida. As imagens do filme, juntamente com os diálogos e as músicas escolhidas nos permitem fazer uma leitura de um cotidiano sofrido, repleto de tensões e conflitos, assim como o cenário apresentado desperta uma sensação de aridez e desconforto, sugestionando as dificuldades da vida do trabalhador brasileiro. O personagem de Tião é o operário que procura outros padrões de vida, padrões burgueses, e o fato de ser o único da família que rompe com o circuito casa-fábrica-bar, sugere a sua desvinculação da classe.
Sobre o mundo do trabalho trata-se de uma família proletária, onde todos precisam contribuir com o seu trabalho, o filme sobrepõe três profissões diferentes, sem, no entanto, aprofundar no diálogo entre eles. As profissões são: metalúrgicos; office-boys e operários da construção civil. A profissão destaca é a dos metalúrgicos que são representados como a única classe organizada e preocupada com os próprios problemas; isso se deve ao fato de que o filme foi produzido dentro do ressurgimento do movimento operário como a base da redemocratização do país. O núcleo metalúrgico é o grande destaque do filme, mesmo o filme destacando poucas vezes a linha de produção e montagem, quando elas são mostradas, sempre aparece com uma iluminação e uma escolha de ângulo que nos dão a sensação de condições de trabalho ruins. O próprio som da fábrica colabora para aumentar a sensação. Também é discutida a questão do arrocho salarial que soterrava o poder de compra dos trabalhadores, essa questão aparece em diálogos dentro da fábrica, mas principalmente nos confrontos entre Otávio e Tião. Tião sempre faz referência às péssimas condições salariais representadas nas condições de vida da família, desacreditando assim do movimento operário como forma de conquistar melhorias. Essa visão de Tião é debatida pelo coletivismo de Otávio, consciente de que os ganhos maiores são os da classe; o individualismo de Tião discute ao longo do filme que a realização na vida é resultado do esforço individual. O filme também retrata a introdução do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), dispositivo criado pelos governos militares para quebrar a estabilidade no emprego; Tião, reconhece tal benefício como mais um ganho individual, portanto, não se vê comprometido a se preocupar com a classe. A crítica é em relação ao FGTS é uma crítica à legislação criada para enfraquecer o trabalhador diante do poder do capital e dos governos militares. O FGTS está incorporado à mentalidade trabalhista e, atualmente, devido à ampliação do mercado informal de trabalho, é cada vez menor o número de trabalhadores que podem contar com tal benefício, por mais desagregador que tenha sido em sua origem. Apesar da introdução da questão do FGTS, os operários no filme são demitidos por questões políticas ou pessoais e, não por falta de posto de trabalho. Isso aparece nas falas de Otávio e Tião: ambos afirmam que, se perderem o emprego, não demorariam muito para encontrar outro, pois tinham uma profissão: destaca-se novamente a categoria metalúrgica. Atualmente, o movimento operário encontra-se muito mais enfraquecido, visto que o desemprego é uma realidade entre milhões de pessoas ao redor do mundo, decorrentes das novas formas de organização do trabalho, com valorização de um novo tipo de formação flexível, como fragmentação da produção, associada à automação. Se nos anos 70 o desemprego entre os metalúrgicos não era fator desagregador da união da categoria, atualmente ocorre o contrário.


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