TEXTO PARA ALUNOS:
Texto 1:
Introdução aos estudos do Trabalho
Por Roniel Sampaio Silva
Certamente você já deve ter se perguntado o porquê do
trabalho ser tão importante na vida das pessoas. Quando um contingente
excessivo de pessoas de pessoas não conseguem inserir-se no trabalho, tanto as
pessoas quantos países costumam entrar em colapso. Por que o trabalho é tão
importante para as pessoas? Antes de responder esta pergunta, gostaria
de convidá-lo para uma pequena odisseia sobre a contribuição de algumas
disciplinas sobre o tema, para introduzirmos você neste assunto e,
posteriormente, nos aprofundar sobre o tema na perspectiva sociológica.
O que as ciências naturais têm
a nos dizer?
É como a estudarmos na Física que trabalho é resultado do
deslocamento de um esforço numa variação de espaço. Quando alguém arrasta uma
cadeira, a massa do objeto e a distância pela qual ela é arrastada definem um
número que representa matematicamente o esforço físico daquele trabalho.
Na Biologia o trabalho pode ser associado a animais como
as formiga e as abelhas cujas organizações têm uma lógica muito diferente da
sociedade que vivemos. Muitos destes incríveis animais trabalham por até 15
dias seguidos e depois morrem. Por que tanto empenho? Diferentemente da espécie
humana a abelha não lucra e nem comercializa o fruto do seu trabalho, sua
motivação para o trabalho para colmeia é fruto da seleção natural que fez com
que estes animais se agruparem e criarem uma lógica de organização social
peculiar e relativamente simples em relação à nossa organização social.
Portanto, é um esforço que visa garantir a manutenção da sobrevivência da
espécie. Diferentemente dos seres humanos uma vez que estes insetos só
trabalham para satisfazer necessidade biológica.
A sociologia vê o trabalho como categoria básica de
entendimento da sociedade, diferentemente das abelhas e formigas, a lógica da
organização social é leva em conta vários outros aspectos da sociedade que tem
um peso maior ou menor dependendo do povo e do tempo histórico. A sociologia é
uma das grandes interessadas no trabalho humano justamente porque ele é uma das
melhores formas de agruparem os indivíduos dentro da sociedade. As ciências
sociais veem a necessidade das relações sociais, para além das questões
evolutivas. Diferentemente das formigas, a motivação não são substancias
químicas ou comportamentos instintivos, mas motivações complexas que criam um
sistema social sofisticado que faz destes seres humanos modificadores não
apenas da natureza, mas também de si próprio no sentido de modificar sua
própria consciência. Nas sociedades humanas, as grandes revoluções ocorreram,
sobretudo quando o trabalho e o sistema social se modificaram substancialmente.
E a (pré)História?
Na antiguidade, as grandes mudanças sociais ocorreram em
virtude da modificação do trabalho de coletores e caçadores para o trabalho de
agricultores e domesticadores. Isso fez com que o homem e a mulher deixassem
de ser nômades e passassem a se fixar num local apropriado para o
desenvolvimento desse tipo de trabalho, portanto, tornando-se sedentários.
A partir daí a humanidade passou a congregar outros seres
humanos em quantidades maiores de modo que a produção e o trabalho passou cada
vez mais baseado num sistema de divisão de tarefas baseados em pressupostos
sociais, principalmente entre homens e mulheres. Cabiam as mulheres o
gerenciamento da cada e do espaço privado haja vista que entendia que a
responsabilidade dos filhos era apenas da mulher. Há muito tempo a humanidade
acreditou que o homem não tinha nenhum envolvimento com a gravidez e que a
maternidade era um fenômeno espontâneo e condicionado apenas a mulher. Já aos
homens era reservado o desbravamento das florestas, o gerenciamento dos templos
religiosos e na medida em que as relações sociais e políticas ficavam
complexas, eram eles quem costumava proferir as tradições que criavam regras
sociais tanto para o trabalho como para toda vida social.
E a Filosofia?
Na antiguidade clássica, a Filosofia nos ajuda a
compreender um pouco da sociedade grega da época de Platão e Aristóteles. Nessa
época acreditava-se que o conhecimento devia se pautar no entendimento da
essência das coisas para afastar-se do mundo das aparências. A sociedade grega
vivia uma democracia seletiva. Enquanto os escravos trabalhavam os cidadãos,
10% da população, decidiam sobre a vida pública de todos. Nesse sentido,
ficava cada vez mais evidente a separação do trabalho baseado no trabalho manual,
separado do intelectual. Para muitos filósofos gregos essa separação do
trabalho era motivado na crença de que muitos já nasciam com uma essência
preconcebida para para comandar e outros para serem comandados, por essa razão
justificavam a escravidão.
Muitas destas ideias perduraram até bem pouco tempo até
período colonial e imperial. Tal sistema de trabalho escravocrata foi um dos
motores da colonização brasileira e se justificou por um reforço da ideia
escravocrata aristotélica. Espalhou-se também algumas das investidas coloniais
e escravocratas em vários lugares do globo.
Navegando no mar de
conhecimento, chegamos na sociologia.
Preliminarmente, conceituaremos trabalho, para a partir
disso pensarmos quais as possíveis contribuições da sociologia.
Falamos de um tempo remoto cuja existência das ciências
sociais ainda não foram concretizadas, embora muitos pensadores já se preocupavam
com problemáticas das relações sociais. A sociologia se sistematizou como
ciência no período da das revoluções industrial e francesa. Ocorreu nessa época
uma grande revolução social que teve como protagonista o trabalho. Com
influência um pouco da lógica aristotélica o trabalho manual e o trabalho
intelectual continuou se distanciando, as máquinas foram inventadas o
capitalismo se firmava como sistema de organização econômica e social. Mas a
final o que é trabalho para a Sociologia?
Até antes da revolução industrial o trabalho era feito de
maneira manufatureira e lenta. Existiam as corporações de ofício e os mestres
ensinavam os aprendizes. Estas corporações lembravam uma oficina cujos membros
eram autônomos, tinham suas próprias técnicas e ferramentas e desenvolviam
produtos e processos que eram comercializados e revertidos de volta ao grupo.
Este espaço confundia-se com o espaço da casa do mestre. O trabalho era
integral, o trabalhador tinha suas ferramentas, aliava diversão, aprendizado e
trabalho, além disso era manual e intelectual antes da revolução industrial.
Com o advento da revolução industrial, a fábrica passou a
ser um espaço diferenciado e separado da casa, com pouco espaço para
criatividade e firmado na racionalidade e na repetição. As ferramentas e as
técnicas passaram a ser monopolizadas pelos donos
das fábricas. Cabia não mais aos
operários pensarem como iriam trabalhar, a concepção do trabalho era pensado
não mais pelo trabalhador uma vez que sua atribuição era tão somente executar
tarefas programadas. Essa fragmentação foi chamada de alienação do trabalho.
A sociologia no século XIX, preocupa-se com no modo com o
qual o trabalho interfere nos processos sociais e também nos sentidos desse
trabalho, tais sentidos sugerem uma aproximação com o conceito de ação social. O trabalho é dotado de sentido e a sociedade
atribui motivação diferenciada de acordo com seu contexto social. É, sobretudo
nisso que está interessada a sociologia, no sentido do trabalho e nos efeitos
que este traz para a organização social. O trabalho foi identificado com forma
de coesão social.
A sociologia e os sentidos do
trabalho
O professor Tomazi nos ajuda compreender alguns destes
sentidos analisando a origem da palavra trabalho. O termo pode ter nascido do
vocábulo latino tripallium, que significa instrumento de tortura. Dá pra
entender um pouco porque tanta gente não gosta de trabalhar. Além deste
sentido, o autor destaca a pesquisa da filósofa Hannah Arendt que catalogou as
seguintes expressões relacionadas ao trabalho no contexto da sociedade grega.
Assim, o
principal interesse da sociologia está nos sentidos que a sociedade dá ao
trabalho e como estes sentidos e condições ajudam a modificar e a conservar o
sistema social em que vivemos. Desse modo, o trabalho é categoria crucial
para entendimento sociológico porque ela nos ajuda a compreender como se dá tal
organização, tanto do ponto de vista material como os sentidos que os sujeitos
dão a ele, as representações sociais.
Ø Este é um texto introdutório a temática trabalho. Como
ele se inicia com a “pergunta que não quer calar” entre os adolescentes:
“afinal por que temos que trabalhar?” se iniciaria uma problematização, na qual
se pretende desnaturalizar a ideia de trabalho como algo natural, que todos
executam por livre espontânea vontade.
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