domingo, 22 de maio de 2016

Filme: Ou tudo ou nada




Resenha
Ficha Técnica:
Nome do Filme: Ou tudo ou nada
Direção: Peter Cattaneo
Atores: Robert Carlyle, Mark Addy, Tom Wilkinson
Duração: 1h32
Gênero: Comédia
Ano de Lançamento: 1998

Sinopse:
A história decorre em Sheffield, Inglaterra, cidade outrora conhecida como Cidade do aço ("City of Steel"), pátria de uma massiva indústria de metal o que possibilitou a criação de um grande número de empregos. Desde os anos 1990, está em declínio: as indústrias cada vez mais realizam demissões, o que gera um grande número de desempregados. Um deles é Gaz (Robert Carlyle), que está prestes a perder a custódia do filho por não ter dinheiro para sustentá-lo. É neste cenário que um grupo de trabalhadores desempregados resolve montar um show de striptease para as mulheres, a fim de conseguir algum dinheiro. No entanto eles não são aquilo que se pode chamar de "modelos de beleza" que qualquer mulher pagaria para ver despir-se. Apesar de tudo e, como não têm nada a perder, resolvem tentar. Tal como o título indica eles têm de fazer um striptease completo num “clube de mulheres”; eles, ao contrário dos concorrentes, pretendem tirar toda a roupa no espetáculo. O filme trabalha muito bem a crise de algumas indústrias e as suas consequências sociais, especialmente no que se refere àqueles que perdem o emprego. É uma comédia com tom trágico, mas conclusão eloquente e esperançosa.

Análise:
A partir da década de 1970, no processo de transição da indústria pesada para a automatizada, indústria leve e depois enxuta, multiplicou-se contingente de trabalhadores dispensáveis, que não pode mais ser absorvidos pelo sistema produtivo. A acumulação capitalista a partir da década de 70, com o declínio das políticas keynesianas, passa a ver o desemprego se alastrando pelo mundo, e os velhos problemas que pareciam resolvidos voltando ainda com mais força, mas a partir daqui, o desemprego passou a ser visto como um apêndice do sistema capitalista - sugestiona-se não haver como extingui-lo. Dada as inovações do sistema produtivo e o enxugamento do Estado (declínio do keynesianismo), a produção passa a funcionar com um número cada vez reduzido de capital variável (mão-de-obra). A crescente liberação de força-de-trabalho gera incompatibilidade cada vez maior entre a oferta e demanda de trabalho, o número excedente de mão-de-obra, converte uma parte dela em “mercadoria dispensável”. Assim o filme mostra esse período no qual o número de postos de trabalho é cada vez mais estreito, atingindo fatalmente grande parte dos operários, que, demitidos das fábricas, não podem ser absorvidos pelo mercado de trabalho, nas mesmas funções ou com os mesmo padrões de salário uma vez que o mercado está em pleno encolhimento. Entre os trabalhadores demitidos estão os seis principais personagens do filme; Gaz, (Robert Carlyle OBE), Dave (Mark Addy), Gerald (Tom Wilkinson), Horse (Paul Barber), Lomper (Steven Huison), Guy (Hugo Speer). Como alternativa para driblar o desemprego e conseguir algum dinheiro que os tire da pior, Gaz reúne amigos e desempregados a fim de buscar uma nova forma conseguir dinheiro. Gaz nota que é preciso pensar uma nova forma de empregar o corpo para ganhar a vida, pois eles não têm outra coisa parar vender, que não seja seu trabalho, precisam encontrar uma outra forma de inserir-se novamente em alguma atividade remunerada. Gaz apoiado pelo seu amigo e ex-companheiro de fábrica Dave, pensa que pode conseguir um bom dinheiro fazendo um strip-tease, Gaz propõe com isso, mesmo sem pensar na amplitude da nova tarefa, uma nova forma de utilizar seus corpos para ganhar a vida.
Outro aspecto mostrado no filme é a crescente participação das mulheres no mundo do trabalho: com o declínio da indústria pesada, passam a trabalhar “fora” e assim a ocupar maior espaço no mercado de trabalho, exercendo atividades remuneradas, e mais que isso, dado o desemprego dos maridos, são elas que passam a sustentar seus lares (as mulheres já trabalhavam em suas casas, assim elas passam agora a acumular mais trabalho). As mulheres estando empregadas passam fazer parte da população economicamente ativa. Podemos avaliar que tal inversão no mercado de trabalho com inclusão das mulheres na população ativamente econômica, não constitui de fato uma vitória não no sentido pleno do termo, Pois o mercado de trabalho estar absorvendo um número maior de mulheres, mas, isso ocorre depois das demissões em massa dos homens, sem absorção necessária, e também no geral, empregam-se mulheres a níveis salariais mais baixos, sem se criar um montante total maior de empregos, praticamente não se cria novos empregos, assim implica substituir uma mão-de-obra por outra, que trabalhe a um preço menor, pois o índice geral de desemprego não diminui. Soma-se a isso que com os governos Thatcher e Tony Blair os direitos trabalhistas na Inglaterra foram flexibilizados em grande escala, instalando-se a precariedade, baixos salários e também a insegurança de um futuro inserto (instabilidade no emprego).
Apesar do filme procurar retratar a história de forma cômica, a temática nos faz pensar na degradação do indivíduo pelo grande capital. Os personagens do filme mostram exatamente o desespero de muitos homens e mulheres, mas especialmente dos homens, que vivem em um período de transformações dos instrumentais de trabalho, sendo que a única coisa que resta a eles é tentar sobreviver com aquilo que lhes resta – a força de trabalho, seja ela qual for....

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