Resenha
Ficha
Técnica:
Nome
do Filme: Ou tudo ou nada
Direção:
Peter
Cattaneo
Atores:
Robert Carlyle, Mark Addy,
Tom Wilkinson
Duração:
1h32
Gênero:
Comédia
Ano
de Lançamento: 1998
Sinopse:
A história decorre em Sheffield,
Inglaterra, cidade outrora conhecida como Cidade do aço ("City of
Steel"), pátria de uma massiva indústria de metal o que possibilitou a
criação de um grande número de empregos. Desde os anos 1990, está em declínio:
as indústrias cada vez mais realizam demissões, o que gera um grande número de
desempregados. Um deles é Gaz (Robert Carlyle), que está prestes a perder a
custódia do filho por não ter dinheiro para sustentá-lo. É neste cenário que um
grupo de trabalhadores desempregados resolve montar um show de striptease para
as mulheres, a fim de conseguir algum dinheiro. No entanto eles não são aquilo
que se pode chamar de "modelos de beleza" que qualquer mulher pagaria
para ver despir-se. Apesar de tudo e, como não têm nada a perder, resolvem
tentar. Tal como o título indica eles têm de fazer um striptease completo num
“clube de mulheres”; eles, ao contrário dos concorrentes, pretendem tirar toda
a roupa no espetáculo. O filme trabalha muito bem a crise de algumas indústrias
e as suas consequências sociais, especialmente no que se refere àqueles que
perdem o emprego. É uma comédia com tom trágico, mas conclusão eloquente e
esperançosa.
Análise:
A partir da década de 1970, no
processo de transição da indústria pesada para a automatizada, indústria leve e
depois enxuta, multiplicou-se contingente de trabalhadores dispensáveis, que
não pode mais ser absorvidos pelo sistema produtivo. A acumulação capitalista a
partir da década de 70, com o declínio das políticas keynesianas, passa a ver o
desemprego se alastrando pelo mundo, e os velhos problemas que pareciam
resolvidos voltando ainda com mais força, mas a partir daqui, o desemprego
passou a ser visto como um apêndice do sistema capitalista - sugestiona-se não
haver como extingui-lo. Dada as inovações do sistema produtivo e o enxugamento
do Estado (declínio do keynesianismo), a produção passa a funcionar com um
número cada vez reduzido de capital variável (mão-de-obra). A crescente
liberação de força-de-trabalho gera incompatibilidade cada vez maior entre a
oferta e demanda de trabalho, o número excedente de mão-de-obra, converte uma
parte dela em “mercadoria dispensável”. Assim o filme mostra esse período no
qual o número de postos de trabalho é cada vez mais estreito, atingindo
fatalmente grande parte dos operários, que, demitidos das fábricas, não podem
ser absorvidos pelo mercado de trabalho, nas mesmas funções ou com os mesmo
padrões de salário uma vez que o mercado está em pleno encolhimento. Entre os
trabalhadores demitidos estão os seis principais personagens do filme; Gaz,
(Robert Carlyle OBE), Dave (Mark Addy), Gerald (Tom Wilkinson), Horse (Paul
Barber), Lomper (Steven Huison), Guy (Hugo Speer). Como alternativa para
driblar o desemprego e conseguir algum dinheiro que os tire da pior, Gaz reúne
amigos e desempregados a fim de buscar uma nova forma conseguir dinheiro. Gaz
nota que é preciso pensar uma nova forma de empregar o corpo para ganhar a
vida, pois eles não têm outra coisa parar vender, que não seja seu trabalho,
precisam encontrar uma outra forma de inserir-se novamente em alguma atividade
remunerada. Gaz apoiado pelo seu amigo e ex-companheiro de fábrica Dave, pensa
que pode conseguir um bom dinheiro fazendo um strip-tease, Gaz propõe com isso,
mesmo sem pensar na amplitude da nova tarefa, uma nova forma de utilizar seus
corpos para ganhar a vida.
Outro aspecto mostrado no filme é
a crescente participação das mulheres no mundo do trabalho: com o declínio da indústria
pesada, passam a trabalhar “fora” e assim a ocupar maior espaço no mercado de
trabalho, exercendo atividades remuneradas, e mais que isso, dado o desemprego
dos maridos, são elas que passam a sustentar seus lares (as mulheres já
trabalhavam em suas casas, assim elas passam agora a acumular mais trabalho).
As mulheres estando empregadas passam fazer parte da população economicamente
ativa. Podemos avaliar que tal inversão no mercado de trabalho com inclusão das
mulheres na população ativamente econômica, não constitui de fato uma vitória
não no sentido pleno do termo, Pois o mercado de trabalho estar absorvendo um
número maior de mulheres, mas, isso ocorre depois das demissões em massa dos
homens, sem absorção necessária, e também no geral, empregam-se mulheres a
níveis salariais mais baixos, sem se criar um montante total maior de empregos,
praticamente não se cria novos empregos, assim implica substituir uma
mão-de-obra por outra, que trabalhe a um preço menor, pois o índice geral de
desemprego não diminui. Soma-se a isso que com os governos Thatcher e Tony
Blair os direitos trabalhistas na Inglaterra foram flexibilizados em grande
escala, instalando-se a precariedade, baixos salários e também a insegurança de
um futuro inserto (instabilidade no emprego).
Apesar do filme procurar retratar
a história de forma cômica, a temática nos faz pensar na degradação do
indivíduo pelo grande capital. Os personagens do filme mostram exatamente o
desespero de muitos homens e mulheres, mas especialmente dos homens, que vivem
em um período de transformações dos instrumentais de trabalho, sendo que a
única coisa que resta a eles é tentar sobreviver com aquilo que lhes resta – a
força de trabalho, seja ela qual for....
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