Texto 4:
Globalização: para além da mera ideia de um mundo
interligado, de trocas e intercâmbios culturais.
Ao
usarmos a expressão “globalização”
ou “aldeia global” estamos fazendo alusão à ideia de que o mundo tornou-se
menor, seus cantos mais acessíveis e marcados por trocas de bens materiais e
imateriais em um fluxo nunca visto antes, assim como os países que se
influenciam mutualmente. Em parte isso é verdadeiro. Digo em parte porque a ideia
de que existe uma troca entre as nações é um tanto exagerada. O que existe, em
muitos casos, é uma imposição da cultura ocidental sobre os demais países do
mundo. Por isso a expressão “ocidentalização do mundo” utilizada por Serge Latouche em 1989 em "L’occodentalisation
du Monde".
O
conceito de “Ocidentalização do Mundo” desenvolvida por Latouche (1989) nos
fornece caminhos interpretativos do fenômeno que recorrentemente chamamos de
globalização. Para Latouche, o que existe é uma imposição da cultura europeia
sobre o globo; fenômeno que teve origem ainda nas primeiras Cruzadas, no século
XI, sendo ampliada nos séculos XV e XVI, com as Grande Navegações - que
culminaram com a descoberta de novas terras - e aprofundada no final do século
XX, sendo agora chamada de Globalização.
Tanto nas Cruzadas,
nas Grandes Navegações, quanto no fenômeno conhecido como globalização, o que
observamos é uma imposição de hábitos culturais e não uma troca clara. É certo
que no contato como outros grupos sociais acabamos sendo, em alguma medida,
influenciados por esses. Alguns hábitos dos índios americanos certamente foram
incorporados pelos europeus, porém não tão claramente no sentido contrário. No
caso dos índios americanos, quase todos passaram pelo processo de aculturação,
caracterizado pela imposição de uma nova cultura: a europeia.
Atualmente,
o processo de aculturação continua em curso. À todo tempo somos influenciados
pela cultura europeia – muitas vezes via Estados Unidos da América. Bastamos
olhar para as últimas tendências da moda. O quanto o Camboja influencia a
cultura francesa? E o inverso? Temos uma troca de hábitos culturais ou trata-se
de um caminho praticamente de mão-única?
Frente
a essa atual tendência de aculturação constantes, sobretudo nos hábitos
culturais, nos vêm a pergunta: por quê isso ocorre? Uma palavra me parece
bastante completa para tal indagação: poder. Outrora, poder religioso e,
posteriormente, poder econômico. Em tempos de globalização, a aculturação, ou
padronização da cultura acaba padronizando, igualmente, os hábitos de consumo.
Uma vez o consumo padronizado, torna-se possível as grandes empresas venderam
seus produtos para todos os cantos do mundo, obtendo assim poder econômico de
forma mais fácil e eficiente.
Com
o advento do capitalismo e sua busca pela maximização do lucro, o objetivo dos
“homens poderosos” passou a ser a ampliação dos lucros, o que se dá via
ampliação do mercado consumidor. Em um mundo “mais igual” é muito mais fácil e
barato ofertar os seus produtos por todos os cantos do mundo. Os benefícios da globalização,
tais como a facilidade de deslocamento de passageiros e a maior informação é
uma realidade, pena que também sejam também mercadorias e a serviço de seus
donos.
Ø Esse texto fará o fechamento do tema trabalho à realidade
dos dias atuais, pois as últimas décadas têm sido pródigas em referências e
análises que tentam descrever e explicar as dramáticas transformações que vêm
ocorrendo na realidade do trabalho. Segundo Milton Santo a globalização está se
impondo como uma fábrica de perversidades. O desemprego crescente torna-se
crônico. A pobreza aumenta e as classes médias perdem em qualidade de vida. O
salário médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os
continentes. Novas enfermidades como a Aids se instalam e velhas doenças,
supostamente extirpadas, fazem seu retorno triunfal. A mortalidade infantil
permanece a despeito dos progressos médicos e da informação. A educação de
qualidade é cada vez mais inacessível. Alastram-se e aprofundam- se males
espirituais e morais, como os egoísmos, os cinismos, a corrupção.
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